Resenha: Vidas Secas - Graciliano Ramos

Saudações a todos e a todas! Na resenha de hoje, optei pelo improvável. Já li dezenas de livros de fantasia, romance e demais obras de ficção. Sei que esses textos são bastante populares nos dias de hoje e que, provavelmente, conseguiria mais leituras se escrevesse sobre um deles. Longe de mim desprezar o valor da ficção – ora, logo eu, que amo o gênero?! –, todavia escolhi um clássico realista para protagonizar esta resenha.

Muitos de vocês já o leram. Os vestibulandos, principalmente. Alguns apenas o folhearam. Agora ouvir falar dele, creio eu, todos já ouviram. Como não ouvir falar de Vidas Secas, de Graciliano Ramos?

Informações

Título: Vidas Secas
Título original: Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
Gênero: Romance, romance brasileiro
Editora: Record
Edição: 71ª ed.
Ano de publicação: 2001
Páginas: 155 p.
Sinopse: O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. 

Apesar desse sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o autor contou: “Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão... os meus personagens são quase selvagens... pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem mesmo podem fazer... porque comumente não são familiares com o ambiente que descrevem... Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda”. [...]

Dedicatória

Dedico esta resenha à professora Marinalba, que me fez ler um dos poucos livros em que não tinha interesse imediato de mergulhar. Que este texto se faça, em meio a tantos outros similares, algo singular. Que desperte o interesse de vários para a leitura crítica da obra.

Uma palavra grosseira, uma expressão bizarra, ensinou-me por vezes mais do que dez belas frases.” 
Denis Diderot

* * * * *

Em meio ao sertão nordestino, uma família de retirantes caminha rumo ao desconhecido, fugindo da seca, da fome e da miséria. Os componentes da família e, por conseguinte, protagonistas da obra, são: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cadela Baleia.

Após muitas dificuldades, os personagens encontram uma fazenda aparentemente abandonada e lá se estabelecem. Não demora para que o dono reclame sua propriedade. Sem ter para onde ir e temerosos dos efeitos da seca, os retirantes pedem ao dono para ficar na fazenda. O pedido é atendido. Fabiano se torna vaqueiro e Sinhá Vitória assume as responsabilidades domésticas. As coisas repentinamente melhoram.

A família, todavia, continua perseguida pela pobreza e carregando o peso do analfabetismo, que os impede de ascender socialmente. 

Vidas Secas... livro seco, personagens secos, tudo seco... certo? Sim e não. Explicarei isso partindo de minha própria experiência de leitura. Não foi por livre arbítrio que imergi na obra de Graciliano. Tinha de apresentar um seminário sobre ela, logo, tinha de lê-la. Estava pronta para uma leitura enfadonha, pobre e desmotivadora. Por quê? Porque sou, quer queira, quer não, integrante de uma geração que gosta de capas bonitas, romance, personagens perfeitos e acontecimentos surreais. Cresci aprendendo a idolatrar o que vem do estrangeiro. Meu primeiro grande amor literário foi Harry Potter. Percebeu a lacuna entre este e Vidas Secas?

Comecei a ler a obra. Acompanhei a caminhada dos “infelizes” pela caatinga. De início a contragosto, vi um cenário seco e triste se desenhando ao meu redor. Senti os efeitos do estilo direto e sem eufemismos do autor.

Logo nas primeiras páginas, a personagem Vitória, minha heroína, mata o papagaio da família para que seus filhos não morram de fome. Que cruel! Que tipo de livro é este?, pensei. Cogitei ler algo mais interessante, mas decidi continuar em Vidas Secas. Com o passar do tempo e das páginas, caiu a ficha. O livro parecia gritar para mim: “Ei, estou aqui! Não me ignore! Não vim para fazê-la feliz. Não lhe trago um príncipe encantado. Trago-lhe a verdade!”

Sabe, esse tipo de livro sempre é bem-vindo. Serve para mostrar o quão cegos podemos ser. Graciliano poderia dizer que Sinhá Vitória era linda e esbelta, porém escreve:

 “[...] enfronhada no vestido vermelho de ramagens, equilibrava-se mal nos sapatos de salto enorme. Teimava em calçar-se como as moças da rua – e dava topadas no caminho.” 

Ele poderia ter dito que Fabiano era inteligente e altruísta, contudo fala:

“Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo.”

Linguagem seca e regional, personagens repletos de “problemas”, com poucas qualidades.

Ainda assim ou será justamente por isso? –, vale a pena ler a obra. O livro é incomum, ousado, realista. Não traz uma linguagem lírica e enfeitada, traz palavras cruas. Não embeleza, vai direto ao assunto. Faz críticas inteligentes, promove reflexões. É seco na escrita, rico no significado. Não o fará dormir tranquilo, pensando que tudo no mundo é bom e perfeito. Por essa razão, meu parecer é que todos deveriam lê-lo. Se conferir meu Skoob, verá que atribuí apenas duas estrelas a Vidas Secas. Isso se deve ao fato que não é o livro mais gostoso de se ler, todavia é necessário.

Ademais, o livro possui treze capítulos razoavelmente independentes entre si. Você pode lê-lo na ordem em que quiser e até pular algumas partes, embora eu não recomende isso. Cada capítulo o aproxima mais de um personagem, permitindo que o conheça melhor. O primeiro capítulo escrito por Graciliano está bem no meio do livro. É o de Baleia e constitui uma das partes mais emocionantes da obra. Não pule este de jeito algum. Nele você verá a beleza da prosopopeia em ação. ;)

* * * * *

Conclusão: De forma clara e direta, sem eufemismos, o autor retrata fielmente a vida do sertanejo de sua época – década de 1930 –, o descaso do governo, a miséria e a imagem do nordestino forte e determinado, enfrentando as adversidades do ambiente em que vive. O mais impressionante, contudo, é o fato de que – mais de setenta anos após sua publicação – Vidas Secas ainda denuncia com precisão a condição do sertanejo brasileiro.


Avaliação: ★★☆☆☆

Acho que deu para sacar que meu gosto literário varia bastante, não? Bem, espero que vocês tenham lido esta resenha. Não há vampiros, lobisomens ou fantasmas em Vidas Secas. Contudo, há temáticas que muitas vezes assustam mais que esses seres. 

2 comentários:

  1. Olá, querida! Passando pra conhecer o seu cantinho... Adorei, muito legal. Já to seguindo!
    Aproveito p te convidar a conhecer o meu blog de variedades. Informo q o espaço p parcerias está aberto lá no Vou-de-Blog!
    Bjinhos!!

    www.voudeblog.com

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  2. Um grande clássico da nossa literatura que retrata tão bem a realidade nordestina no período que assolou muitos nordestinos. Sem dúvida, um excelente livros que deve ser lido por todos nós.

    A resenha também está muito boa! Muito instigante!

    Parabéns pela mesma e pelo blog.

    PAPOS LITERÁRIOS

    http://paposliterarios.blogspot.com/

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